Por: Nelson Barboza Leite
Numa conversa amistosa, o Dr. Newton Macedo, grande amigo e especialista em entomologia de cana-de-açúcar, perguntou-me a respeito dos procedimentos, que estão sendo adotados pelas empresas, que formam extensas áreas com florestas plantadas!
O entomologista tinha passado, recentemente, por áreas florestais em Mato Grosso do Sul, Paraná e norte de Minas Gerais e ficou preocupado com alguns sinais de pragas, que observou em diferentes regiões. Em tom de curiosidade, fez a seguinte colocação: “a cultura da cana está distribuída em muito mais áreas e é atacada por uma diversidade enorme de pragas. É problema sério e que pode afetar significativamente a produtividade dos canaviais. Com certeza, o assunto em florestas parece não ser alarmante, mas deve ser tão preocupante, quanto na cana”.
E completou: “é um problema silencioso e que não avisa o momento em que se torna grave. Como já vivi mais de 45 safras de cana, tive oportunidade de ver usinas e produtores de cana quebrarem pela negligência com as medidas de prevenção contra as pragas”. Em cana, a experiência profissional é medida por safra, e só pode falar com conhecimento de causa, quem viveu, no mínimo, 5 safras da cultura.
Uma pausa e o entomologista explicou que “há diferenças entre as culturas de cana e floresta, mas os princípios e fundamentos técnicos para tratar do assunto, são parecidos. Portanto, esse pessoal de floresta precisa cuidar com muita atenção e profissionalismo do problema de pragas”. E concluiu: “os usineiros e fornecedores de cana que quebraram, juravam que estavam tomando as medidas e preventivas na medida certa. Na verdade, viviam na ilusão de que as pragas estavam sob controle”. O comentário me pareceu muito oportuno como importante alerta para ser compartilhado com os profissionais, que cuidam de empreendimentos florestais. Avaliando a colocação, há de se destacar os seguintes aspectos:
1- A quantidade de áreas que o entomologista observou é muito pequena, diante do montante de áreas florestais existentes nas diversas regiões brasileiras – se conhecesse a quantidade de florestas concentradas em algumas regiões, talvez a abordagem fosse mais contundente e assustadora!
2- Tive oportunidade de conhecer e conviver em empresas com ataques de pragas. Tudo em escala, relativamente pequena, mas o suficiente para assustar! Realmente, quando acontece, o susto é grande!
3- A sensação geral, em conversas com outros amigos, é que o assunto está sob controle! Não assusta e nem é preocupação para a maioria dos silvicultores, que acreditam que os procedimentos preventivos adotados pelas empresas são, suficientemente, capazes de garantir a proteção das florestas!
Há pontos importantes, quando se comparam as culturas de cana e floresta: a silvicultura convive com diversas pragas, em quase todas as regiões do Brasil - não há nenhuma região que não tenha dado algum sinal da presença de pragas; temos muitas medidas preventivas, que costumeiramente, são utilizadas nas empresas; já tivemos alguns ataques intensos, que exigiram intervenções mais drásticas para promover a necessária proteção; há sinais evidentes e crescentes de pragas, mas nada que tenha exigido maior mobilização do setor; parece que o problema, quando surge, não é devidamente divulgado.
Para nossa felicidade, ainda não tivemos nenhum caso de empresa, que tenha quebrado por ataque de pragas. Os casos de florestas abandonadas e totalmente destruídas por formigas não podem ser considerados como exemplo. Quando fiz essas considerações, o entomologista, de pronto, colocou: “aproveitem e se preparem, não facilitem. Os usineiros quebrados falavam a mesma coisa”. Apesar das vantagens aparentes da silvicultura, as preocupações aumentaram, após alguns comentários complementares: “os cuidados preventivos na cana evoluíram muito, nos últimos anos, em função da ineficiência dos procedimentos preventivos que vinham sendo utilizados”.
Segundo o entomologista, a atenção especial e assiduidade nas aplicações sistemáticas, proteção dos inimigos naturais, conhecimento detalhado do ciclo dos insetos, interação com materiais genéticos e condições de clima, são alguns, entre inúmeros conhecimentos, que evoluíram cientificamente, e que mudaram completamente os procedimentos preventivos tradicionais. Com novas medidas aumentou-se a eficiência dos processos de controle, diminuíram-se os custos e se deu mais segurança aos empreendimentos canavieiros.
“A grande mudança é que o produtor não fica esperando a informação sobre o nível de infestação para promover os cuidados preventivos. Ele tem um programa de proteção a ser seguido sistematicamente. A infestação é certa. Agir com precisão é a atitude indicada para se evitar danos”. Que tremenda lição! Que alerta importante!
Nota: Dr. Newton Macedo é especialista em entomologia e produtividade de cana. Foi professor universitário e tem inúmeros trabalhos científicos publicados– newton_macedo@yahoo.com.br
Nelson Barboza Leite – nbleite@uol.com.br – Diretor da Teca e Daplan – empresas de serviços silviculturais
Fonte: Painel Florestal/ http://www.painelflorestal.com.br/noticias/artigos/as-florestas-e-os-riscos-com-pragas