Por: Jornal Canal Bioenergia
Resíduo, segundo o Dicionário Michaellis, “é aquilo que resta, que subsiste de coisa desaparecida”. Também está definido como “substância que resta depois de uma operação química ou de uma destilação; resto, sobra”. Mas para o setor industrial, e em especial o sucroenergético, “esse resto” é matéria-prima e até mesmo fonte de renda.
Na transformação da cana-de-açúcar em etanol ou açúcar há a produção de detritos, como o bagaço, a palha, a torta de filtro, a vinhaça, as cinzas e até mesmo papelão, óleo, estopas e outros materiais. Em termos quantitativos são gerados em uma usina: bagaço de cana, sucatas de aço carbono, resíduos de cinzas da caldeira, resíduos de torta de filtro e a vinhaça.
Segundo o Engenheiro Químico e Gestor de Qualidade e Meio Ambiente da Jalles Machado, Ivan Cesar Zanatta, de um modo geral além dos citados acima, também são gerados resíduos de baterias veiculares, embalagens fitossanitárias, entulhos de construção civil, lâmpadas, resíduos ambulatoriais, resíduos domésticos, resíduos do restaurante, óleo lubrificante usado, graxas, papel/papelão e plástico, resíduos de pneus, efluentes industriais e da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).
Assim, o desafio das empresas e das usinas é dar a destinação ambientalmente correta de cada um. Por isso, a Ecoblending, empresa com sede em Goiânia, realiza o coprocessamento de resíduos industriais. Essa solução usa restos em substituição parcial ao combustível que alimenta a chama do forno de fábricas de cimento. A queima se realiza em condições estritamente controladas, dentro do marco regulador existente, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010.
Segundo a gerente comercial da empresa, Larissa Moura, são passíveis ao coprocessamento o óleo de motor usado, estopas contaminadas, papel, papelão, mangueiras hidráulicas, lama e até mesmo filtros e outros materiais. Não são passíveis ao coprocessamento resíduos com alguma parte metálica, além de outros restritos por lei – como de saúde, originários de agrotóxicos, radioativos e orgânicos. “O coprocessamento é uma destinação ambiental. Mas esses resíduos podem ser utilizados para outras destinações. A lama, por exemplo, ao invés de ser queimada pode utilizada no lugar da argila.”
Alternativas
Atualmente existem opções de processo, no qual é possível a eliminação por completo de insumos que possuem altos impactos negativos, por tecnologias limpas, como por exemplo, o uso de peneira molecular na fabricação de etanol, o uso de osmose reversa no tratamento de água. Nestes dois casos, elimina-se praticamente o uso de insumos químicos de grande impactos negativos ao meio ambiente.
Outro bom exemplo é a utilização de equipamentos que fazem análises por infravermelho, eliminando o grande uso de reagentes químicos. Também pode ser citado a produção orgânica, como o açúcar orgânico. Nesse processo industrial não é usado nenhum insumo químico, ao contrário do processo do açúcar convencional.
Nas usinas
Segundo o consultor Hélio Belai, as usinas estão agindo com o objetivo de atender a legislação, apenas isto. “Uma pequena quantidade delas destina os resíduos de uma maneira lucrativa e ambientalmente correta e ética”, pontua.
Nas usinas do setor sucroenergético o bagaço é utilizado na geração de energia elétrica. Segundo a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica, 2012), uma tonelada de cana produz em média 280 quilos de bagaço e 234 quilos de palha e pontas. E, considerando apenas o bagaço seria possível gerar 85,6 kWh de energia de exportação.
Outro resíduo, a vinhaça é utilizada na fertirrigação da área agrícola. “O uso da vinhaça como fertilizante fonte de potássio, juntamente com o adubo orgânico, quando aplicados, elimina o uso de adubo químico, contribuindo assim com a preservação dos recursos naturais”, explica Ivan Zanatta.
Já os resíduos das cinzas da caldeira juntamente com a torta de filtro são utilizados na fabricação de adubo orgânico, que é aplicado na área de plantio orgânico da empresa.
Para ter um controle da geração de resíduos, a dica de Zanatta é escolher fornecedores que possam agregar produtos que irão impactar o menos possível ou até mesmo não ter impacto negativo em relação aos resíduos que possam ser gerados com o produto fornecido.
“A própria gestão de resíduos da usina ajuda na inovação e na procura por alternativas tecnológicas, pois, o fato de se ter uma meta de redução dos resíduos gerados, todos procuram trabalhar abaixo da meta e para isto sempre estão em busca de alternativas favoráveis para atingirem os seus objetivos”, revela o engenheiro químico.
Na usina, para a destinação final dos rejeitos, é feita a reciclagem, o reuso e a incineração. Na Jalles Machado, por exemplo, são enviados para o aterro controlado da empresa apenas os resíduos que não têm alternativa de reciclagem ou reuso, com isto a vida útil do aterro que antes era de nove anos, passou para 20 anos. “Essa ampliação demonstra quanto é importante se ter uma gestão dos resíduos gerados”.
Segundo Zanatta, a implantação da gestão de resíduos na empresa foi um divisor de águas. “Antes não se quantificava, não havia separação, tudo era vendido sem classificação, não se controlava o desperdício, não fazia uso de materiais descartados, nem mesmo existia um aterro controlado. O que existia era um local determinado para o descarte, mas com a implantação da gestão dos resíduos todo este cenário mudou e para melhor”, conta.
Devido a preocupação ambiental foram implantadas mudanças profundas na gestão da usina, com a criação de baias de recebimento dos resíduos, onde todo é separado e classificado. Também foi estabelecida uma sistemática, no qual só é retirado material novo no almoxarifado se o mesmo material não está disponível na área de descarte, como por exemplo, pedaços de chapas e assim sucessivamente para os demais materiais.Com essa gestão de resíduos há geração de receita com a comercialização de acordo a classificação de cada material.
Fonte: Painel Florestal/ http://www.painelflorestal.com.br/noticias/biomassa/gestao-de-residuos-nas-empresas-para-evitar-danos-ambientais